top of page

Sobre a minha decisão de morar fora

06 de AGOSTO de 2020
IMG_4921.JPG
IMG_3784.JPG

ABOUT COISAS DE CAMILLA

Camilla Araujo Mleczak.

31. Alicante. Espanha.

Sol em Virgem. Ascendente em Escorpião. Lua em Leão.

Aqui é só um lugar onde divido meus interesses, viagens, comidas, indico coisas aleatórias e compartilho meu estilo de vida.

Eu estou, no mínimo, uns 6 meses atrasada com esse post, mas decidi escrever sobre a decisão de ir morar fora quando finalmente o meu documento de residente da Espanha saísse e ele saiu essa semanaaaaa! Ok, não peguei ele ainda, mas sei que na semana que vem estará nas minhas mãos, então chegou o momento de eu escrever um pouco mais sobre a minha experiência e virão muitos posts mais pra frente sobre sentimentos de quase 10 meses em terras estrangeiras e sobre burocracia também né? Claro, estando na Espanha, não pode faltar.

Vou começar contando um pouco para vocês sobre a minha história. Lá em 2014/2015 (aproximadamente 2 anos morando em São Paulo e já "confortável" com meu emprego e meu apartamentozinho alugado), morar fora estava longe de ser uma possibilidade. Tinha um sonho de conhecer muitos países, visto que nunca tinha saído do Brasil nem pra conhecer a Argentina, talvez um curso de férias, um intercâmbio de 3 ou 6 meses em algum país poderia ser algo que eu faria, mas assim em um futuro muito distante.

Em 2016, eu e meu marido começamos a morar juntos, estávamos felizes e confortáveis com a nossa nova casinha e a nossa filhota vic e tudo parecia perfeito, apartamento novinho, bem decorado super a nossa cara, o inicio da vida de um casal apaixonado cheio de vontade de fazer as coisas juntos, por outro lado, nesse mesmo ano, eu atravessei uma das minhas várias crises de identidade e o trabalho começou a ficar insuportável, a vida corrida e louca de São Paulo começou a incomodar (muito), a sensação de só trabalhar e não ter "tempo" para aproveitar a vida foi ficando gigantesca... horas no trânsito, saudade do contato com a natureza e o ar puro, sonho de ter uma qualidade de vida, liberdade e segurança, trabalhos estressantes e com 0 reconhecimento... foi aí que, no meio desse ano, meu marido soltou "E se a gente fosse morar fora?"

 

A tomada de decisão

Insatisfeitos com a realidade da época, vontade de começar do 0, necessidade de saída da zona de conforto, busca por uma vida melhor + crescimento profissional e espiritual, novos desafios, qualidade de vida... esses foram alguns dos motivos que nos encorajou a tomar a decisão de morar fora. É importante ressaltar que o momento da tomada de decisão é muito importante, principalmente porque nós, como casal, precisávamos estar ambos confortáveis e certos da nossa decisão, então, acredito que, a princípio, o mais importante é conversar com a familia e realmente saber se é uma decisão e uma vontade de todos, como aconteceu conosco.

A escolha do local e do "visto"

O planejamento "propriamente dito"

Bonde elétrico de Lisboa

Mudando as rotas...

Certos de que ambos estavam dispostos a enfrentar esse novo grande desafio de nossas vidas, começamos a pesquisar países. Estávamos certos que teríamos que escolher algum país na Europa, visto que meu marido ja tinha a cidadania européia. Buscamos informações sobre vários países, passamos dias vendo vídeos e informações na internet e optamos por Portugal (sim, ia ser Portugal haha), devido a facilidade da proximidade da lingua + cultura + clima.

Comecei meu grande planejamento de mudança a Portugal pesquisando todos os mínimos detalhes sobre o país, informações sobre trabalho, estudos, moradia, cultura, tudo que vocês possam imaginar. Concentrei 100% da minha energia em pesquisar e "viver" Portugal a distância. Nessa época já estávamos no segundo semestre de 2016. 

Como o meu marido já possuía a cidadania européia, não nos foi necessário tirar um visto porque, com a cidadania dele, poderíamos ambos (ele como cidadão e eu como sua esposa), pedir a residência no serviço de atendimento a estrangeiros diretamente no país.

Estou segura que escolher bem o país baseado nas suas expectativas e estilo de vida faz toda a diferença no processo de adaptação, então aconselho a ser bem minucioso nesse inicio de processo e buscar o máximo de informações confiáveis nesse momento. Logo após, a escolha do país, escolher como viver legalmente nesse país é muitissimo importante como vocês já devem saber. Existem vários tipos de vistos de acordo com o país, acredito fielmente que ver uma maneira de ir morar legalmente em um país é a melhor forma de fazer as coisas.

País "escolhido": OK. "Visto" escolhido: OK também. Nossa idéia era nos casar no inicio de 2018, precisava de tempo para planejar o casamento também (no mínimo 1 ano) e logo depois partirmos. Fiquei de agosto de 2016 a janeiro de 2018 apenas planejando tudo sobre Portugal + casamento, estava totalmente focada nisso. O meu planejamento foi a partir de informações na internet e em canais do Youtube, nesse ano, surgiu um avalanche de informações sobre Portugal, então eu tinha uma pasta no meu computador onde eu colocava todas as informações, links, telefones, endereços e contatos. Eu sempre fui muito fiel a fase de planejamento, as minhas planilhas são as coisas mais bem feitas de se ver. Eu estava, nessa época, vivendo Portugal como se eu já tivesse morando lá.

Chegou abril de 2018 e nos casamos. Pronto. Agora era só sair do trabalho,  vender nossas coisas, entregar o apartamento e partir. #SQN! Ou só que quase não. hahaha

Chegou julho de 2018. Eu já estava casada, desempregada e 100% focada na mudança agora pra Espanha. O que era prioridade das prioridades nesse momento? Aprender o espanhol ou pelo menos, tentar aprender o espanhol. E olha, não foi fácil. A gente sempre acha que a gente sabe desenrolar espanhol mas a verdade é que a gente só percebe que tá bastante enganado quando a gente tenta entender um filme sem legenda e não sai nada ou quando a gente se matricula em um curso e nota que você não sabe dizer nem o the book is on the table em espanhol. Mas tudo bem, eu tinha tempo e energia, precisava estudar. Eu não poderia vir pra um país e não aprender a lingua deles, alias, eu acho que eu não conseguiria viver em uma país sem falar a lingua local.

Em agosto de 2018 me matriculei em um curso em São Paulo e estudei durante 4 meses, só 3 horas aula a semana, curso muito básico, foi uma negação. Tinha a sensação que nunca iria aprender. Porém, uni esse curso a aprendizado em casa com canais no youtube + podcasts + filmes e séries em espanhol + canais espanhóis na tv em casa (eu precisava estar por dentro da cultura, eu tenho essa necessidade vital). Posso dizer que eu realmente criei um entorno espanhol nessa época e já me sentia muito mais "próxima" da Espanha do que de qualquer outro lugar. Mais pra frente eu faço um post sobre meu aprendizado de espanhol e minha evolução até os dias de hoje.

Vivendo a Espanha a distância

Então, eu casei em abril 2018 e saí do trabalho em junho. Agora era só vender tudo e partir, porém, como em muitos momentos em nossa vida, não somos nós que ditamos as regras, a gente não tem controle sobre o tempo certo das coisas e sim, algumas coisas acontecem no percurso e precisamos ser flexíveis e aceitar (pra virginiana aqui? uff imagina). 

Aproximadamente 6 meses antes do meu casamento, final de 2017 mais ou menos, mais de ano planejamento essa mudança para Portugal, meu marido começou a ficar um pouco apreensivo com o fato de tantos brasileiros indo a Portugal e com isso, muitas dificuldades estavam surgindo: a escassez de emprego, os preços altos, a dificuldade para alugar, os salários muito baixos, entre outros receios... Até que um dia desses, ele conversou com uma amiga que estava morando em Barcelona e começou a sondar como seria morar na Espanha. Ele ficou intrigado com a ideia e me perguntou o que eu achava. Assim que ele me comunicou, confesso que achei péssimo porque imaginei todo o tempo investido naquele planejamento servindo pra nada.

Lidando com a frustração dos planos saindo do controle 

Sangria

Chegou julho de 2018. Eu estava já casada, desempregada e 100% focada na mudança agora pra Espanha. O que era prioridade das prioridades nesse momento? Aprender o espanhol ou pelo menos, tentar aprender o espanhol. E olha, não foi fácil. A gente sempre acha que a gente sabe desenrolar espanhol mas a verdade é que a gente só percebe que tá bastante enganado quando a gente tenta entender um filme sem legenda e não sai nada ou quando a gente se matricula em um curso e nota que você não sabe dizer nem o the book is on the table em espanhol. Mas tudo bem, eu tinha tempo e energia, precisava estudar. Eu não poderia vir pra um país e não aprender a lingua deles, alias, eu acho que eu não conseguiria viver em uma país sem falar a lingua local.

Em agosto de 2018 me matriculei em um curso em São Paulo e estudei durante 4 meses, só 3 horas aula a semana, curso muito básico, foi uma negação. Tinha a sensação que nunca iria aprender. Porém, uni esse curso a aprendizado em casa com canais no youtube + podcasts + filmes e séries em espanhol + canais espanhóis na tv em casa (eu precisava estar por dentro da cultura, eu tenho essa necessidade vital). Posso dizer que eu realmente criei um entorno espanhol nessa época e já me sentia muito mais "próxima" da Espanha do que de qualquer outro lugar. Mais pra frente eu faço um post sobre meu aprendizado de espanhol, sobre a minha evolução a ponto de estar dando aulas de espanhol hoje.

Quem me conhece sabe que eu só sei trabalhar com datas. Coitado do meu marido, sofreu muito com a minha ansiedade nesses últimos meses de 2018. Só ele não, eu também sofri. Eu precisava de algo concreto que pudesse aquietar minha mente/coração de que o planejamento sairia do papel e por causa disso, azucrinei meu marido pra gente comprar a passagem o quanto antes. Foi uma época um tanto quanto complicada e delicada. Tomar uma decisão dessas a dois requer muita paciência e saber lidar com os sentimentos e medos do outro. Meu marido estava muito apreensivo, eu tampouco me sentia segura, mas eu tenho esse lado de me jogar de vez, meu marido é bem mais realista. Eu percebia que conforme o momento ia chegando, meu marido ia "fugindo", porque é claro que a ansiedade e o medo vai tomando proporções imensas conforme o momento se aproxima. Depois de azucriná-lo excessivamente, compramos as passagens para dali a 6 meses. Janeiro de 2019 ia ser. Já tinha data. Já era real oficial. Porém, conforme os dias foram passando, muitas horas sozinha, sem trabalhar, só esperando, eu passei por momentos difíceis, emocionalmente falando. O dia X estava se aproximando, mas eu me sentia triste e sem forças. Ainda assim continuei focada em seguir o planejamento que nessa época já era cancelar serviços, vender ou doar coisas, aprender espanhol, quitar dividas, fazer exames médicos e trâmites burocráticos de documentação.

Em novembro de 2019 (2 meses antes do grande dia) eu descobri um probleminha de saúde do qual eu jamais poderia esperar. Seria necessário fazer uma cirurgia, já era quase natal, os médicos iam sair de férias, a cirurgia só poderia acontecer em janeiro por causa da disponibilidade do médico e das férias da minha mãe. Dia 27 de janeiro era o dia, claro que não daria tempo.

Foi uma época muito dura pra mim, porque além do susto totalmente inesperado, estava óbvio que eu teria que adiar os planos e lidar com essa frustração, não foi fácil. Eu realmente comecei acreditar que esse projeto não era pra mim, que tudo aquilo que eu abri mão tinha sido em vão, que eu não teria mais energias para continuar persistindo nesse objetivo. Porém, por mais que fosse difícil aceitar, eu sabia que o momento exigia que eu me voltasse mais para a minha saúde física, mental e espiritual. "Abandonei" por uns meses todo o planejamento, simplesmente sentia que não era o momento de pensar nisso, eu nem tinha cabeça pra pensar nisso, na verdade. Passados os meses de ansiedade, cirurgia feita, ótima noticias, graças a Deus, posso dizer que o momento que eu mais evoluí como pessoa e que eu mais aprendi sobre a importância da espiritualidade em nossas vidas foi nesse momento de reclusão e resignificado da minha vida e dos meus projetos.

Mas e a passagem? O que faríamos com ela? Já nem sabia realmente se queria morar fora, se era algo pra mim, se não seria melhor reformular os planos, ficar no Brasil mesmo, como eu poderia pensar no que fazer com aquela passagem num momento daqueles?

Meu marido sugeriu que tirássemos férias em março e que fossemos a Espanha como passeio, seria bom pra nós espairecermos depois de meses delicados e esquecer um pouco de tantas obrigações e cobranças. Achei a ideia surreal por 1. dinheiro 2. parecia que viajar com aquelas passagens que era para a nossa mudança seria "atestar" que realmente o projeto morar fora realmente "não era pra mim". 

A gente realmente dá um passo pra trás pra depois dar dois passos pra frente

Aconteceu que a gente trocou a passagem e ainda incluimos Portugal no roteiro e foi a melhor coisa que fizemos, visto que cancelar a passagem seria perder praticamente todo o dinheiro. A gente viajou em março de 2019 e foi a primeira vez que eu saí do Brasil e eu me apaixonei pela Espanha. Foi o momento que a gente bateu o martelo e optamos por Valencia. Foi a cidade que a gente mais gostou, que tinha tudo o que a gente buscava e essa viagem foi exatamente o que eu precisava pra me fazer acordar e realizar que não é porque as coisas não acontecem no nosso tempo que elas não vão mais dá certo. Que ideia essa de que morar fora não era pra mim, morar fora é pra todo mundo, só é necessário planejamento, persistência, perseverança, resiliência e muuuuuuuita paciência, mas o momento chega. Essa viagem realmente me deu o sentimento de que eu podia ser a pessoa que eu queria ser e que o mundo tava ali cheio de possibilidades e coisas bonitas pra me mostrar, eu só precisava deixar de lado a vitimização, tomar consciência da minha força interior e compreender que ninguém é capaz de realizar os meus sonhos além de mim mesma.

Voltamos pra São Paulo renovados, um pouco triste de saudades (quem não né? haha) e focados mais uma vez no objetivo final. Resolvi deixar de lado a agonia de comprar passagem o quanto antes e pensei nas coisas de uma maneira mais clara, objetiva e racional.

Dessa vez, não contamos pra ninguém, nem pros meus pais, eu ainda estava um pouco confusa com tudo. Pensamos em ir com 3 meses, porém era verão, chegar de mudança no verão não é legal por motivos de: apartamentos caros, cidade vazia, empresas de férias, órgãos do governo fechados para fazer documentos. Ok, vamos então no segundo semestre, mas quando? Que tal novembro? No meu aniversário de São Paulo parece perfeito. Ok, assim será.

A reta final oficial

Abril de 2019. Martelo batido pela segunda vez: novembro de 2019. O que faço até lá? Mais 6 meses em casa? Não suportarei. Busquei emprego, achei e comecei a trabalhar, foi a melhor coisa que eu fiz. Além da experiência, estava mais uma vez no mercado de trabalho, feliz por estar iniciando uma nova fase depois de tantos meses de sentimentos montanha russa na minha vida. Já não precisava de muito tempo porque meu planejamento já estava todo feito e guardado, eu só precisava agora continuar focando ainda mais no aprendizado do espanhol e um mês antes eu sairia do trabalho e resolvia as ultimas pendências. Documentos já estavam preparados, prioridades resolvidas. 

Aproximadamente 3 meses antes da vinda, eu realmente concentrei todas as minhas energias no projeto. E o que eu fiz nesses 3 meses? Melhor deixar para um próximo post.

bottom of page